Folha de S.Paulo processa OpenAI; saiba quais são as acusações

O jornal paulistano Folha de S.Paulo entrou com uma ação judicial contra a OpenAI na última quarta-feira (20), acusando a empresa de concorrência desleal e violação de direitos autorais.

O periódico afirma que a dona do ChatGPT utiliza seu conteúdo para treinar modelos de inteligência artificial (IA) e disponibiliza reportagens na íntegra, inclusive materiais restritos a assinantes, sem autorização nem pagamento.

Ao fundo, site da OpenAI mostrando o ChatGPT; à frente, um martelo de juiz
Dona do ChatGPT teria treinado seus modelos de IA indevidamente com conteúdo do veículo (Imagem: Ascannio/Shutterstock)

O que diz o processo da Folha contra a OpenAI

  • O processo foi protocolado na Justiça de São Paulo (SP) e solicita que a OpenAI interrompa, imediatamente, o uso do conteúdo da Folha, além do pagamento de indenização por uso indevido. O valor da reparação deverá ser definido posteriormente;
  • Também foi requerido que os modelos de inteligência artificial (IA) da empresa que usaram o material protegido sejam destruídos;
  • Segundo a ação, “o réu desenvolve e aprimora sua ferramenta de IA […] com base em conteúdo alheio […] sem autorização e sem o pagamento de qualquer remuneração”;
  • O documento acrescenta que, em resposta a comandos de usuários, o ChatGPT reproduz reportagens na íntegra no mesmo dia em que são publicadas, desviando “a clientela — no caso, os internautas — de forma ilegítima”.

A advogada do jornal, Taís Gasparian, afirmou à Folha que “há uma nítida prática de concorrência desleal, na medida em que a OpenAI acessa o site da Folha diariamente, driblando os mecanismos do jornal para que isso não ocorra e distribui o conteúdo para os internautas e, com isso, tirando a audiência do jornal. As tecnologias que a Folha adota para impedir a prática são solenemente ignoradas ou contornadas pelo réu“.

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Reincidência e provas

A ação é semelhante à protocolada pelo The New York Times em dezembro de 2023 contra a OpenAI e a Microsoft nos Estados Unidos, também por violação de direitos autorais. O jornal estadunidense defende que a empresa deveria pagar bilhões de dólares em indenização. O NYT já firmou acordo de remuneração de conteúdo com a Amazon.

Já nos documentos anexados ao processo do periódico brasileiro, a Folha busca mostrar que o site e o arquivo do jornal foram usados para treinar modelos da OpenAI. Em um repositório do GitHub mantido por funcionários da empresa, o UOL aparece entre os principais domínios utilizados para treinamento.

Como o domínio da Folha é hospedado pelo UOL, seu conteúdo estaria incluído no material usado. O jornal O Globo também aparece como fonte de dados. Apenas em julho, a Folha registrou mais de 45 mil acessos de GPT bots ao seu site.

Páginas na web de The New York Times, OpenAI e Microsoft
OpenAI e Microsoft também foram processadas pelo mesmo motivo em 2023 pelo The New York Times (Imagem: Tada Images/Shutterstock)

O jornal também apresentou exemplos em que o ChatGPT reproduziu, na íntegra, ou resumiu, reportagens protegidas por paywall. Segundo Gasparian, “para que a imprensa sobreviva, ela precisa ser remunerada, não sendo possível que o aproveitamento do seu conteúdo seja feito sem qualquer remuneração e autorização. A OpenAI se aproveita de todos os investimentos que a Folha faz para veicular notícias atuais e fidedignas, sem qualquer contraprestação“.

Outra advogada do jornal, Monica Galvão, destacou: “diante da tendência de concentração do mercado de comunicação em torno das big techs, deve-se prestigiar os veículos de mídia nacionais. Deve-se ter claro que esses modelos de IA funcionam às custas dos conteúdos produzidos e custeados pela imprensa, que deve ser remunerada por isso.”

De acordo com o processo, a Folha tentou negociar um acordo com a OpenAI no ano passado, mas as conversas não avançaram “por decisão unilateral do réu”. “O último email enviado pela autora ficou sem resposta, o que reforça a atitude de descaso do réu”, diz o texto.

A disputa ocorre em paralelo à tramitação do Projeto de Lei (PL) 2.338, aprovado no Senado em dezembro de 2024 e em análise na Câmara, que prevê pagamento de direitos autorais por conteúdo protegido utilizado no treinamento de modelos de IA.

Ícones de um martelo de juiz, lâmpada, mãos se cumprimentando, cérebro humano, chip de IA e outros rondando os dizeres "AI Ethics", que está sendo tocado por um dedo humano
Processo corre em paralelo a PL que exige o pagamento de direitos autorais pelas big techs que usam conteúdos privados para treinar IAs (Imagem: mayam_studio/Shutterstock)

Em entrevista ao jornal O Globo na semana passada, Nicolas Robinson Andrade, diretor da OpenAI para a América Latina, afirmou que a empresa é contra a obrigatoriedade de remuneração prevista no projeto. Ele comparou a medida a um imposto sobre cadeiras: “É como se o Brasil se tornasse o único país do mundo a taxar a fabricação de cadeiras. Aí é natural que as fábricas de cadeiras no futuro não sejam construídas aqui.

O que diz a OpenAI

O Olhar Digital procurou a assessoria de imprensa da OpenAI e espera resposta.

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